Via Jornal Estado de Minas, Opinião


Jornal Estado de Minas, Opinião – pg 9, domingo, 15 de maio de 2011
Impunidade e Educação

A chacina de Realengo, no Rio de Janeiro, deixou a sociedade brasileira chocada no mês passado. Em meio a tantas opiniões de especialistas e anônimos, chamou atenção a ausência de uma discussão mais profunda sobre o que se pode fazer para evitar acontecimentos do gênero. A resposta está na *EDUCAÇÃO. Como estamos educando nossos jovens? Quais os conteúdos que estão sendo incutidos na sociedade?

Vivemos um século de avanços nos conceitos universais dos direitos humanos. Não há dúvidas de que toda a humanidade pugna pela paz, pelo amor fraterno e pelo bem, que pode, objetiva e simplesmente, ser considerado como não fazer ao outro o que não desejamos que façam conosco. É imprescindível que o ensino intelectual seja profundamente modificado para se tornar mais valoroso, não apenas do ponto de vista econômico, mas também no aspecto social.

Para tanto, necessitamos urgentemente que a reforma educacional passe a impor a criação de matérias próprias voltadas para o aperfeiçoamento da inteligência emocional e dos valores espirituais universais como caridade, ética, amor, paz, harmonia e sustentabilidade. Para que se possa considerar um ser de fato inteligente, a pessoa deve exercitar suas competências intelectuais, emocionais e práticas. Entretanto, apenas a competência intelectual vem sendo exercitada e cobrada nas escolas e concursos públicos. O resultado é um pernicioso desequilíbrio.

É curioso como passamos anos ensinando aos jovens a estrutura química da bolha de sabão, fórmulas complicadas da física, equações complexas da matemática mas, não gastamos um centavo público ou privado para ensinar nossos jovens a serem amorosos, pacíficos e a respeitarem o direito alheio. Não se ensina a dominar as próprias emoções nem quais delas precisam ser cultivadas e quais outras precisam ser transformadas. Em suma, estamos nos transformando numa sociedade partida em seres incompletos, não integrais.

Uma interessante proposta de mudança educacional foi lançada pela UNESCO através do relatório *Jacques Delor. Trata-se da educação integral baseada no aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Denizard de Souza ressalta que “a educação do ser integral contempla a aprendizagem para a convivência. Dessa forma, educa-se para o equilíbrio das relações humanas, macrossociais e ambientais”.

Será que se o assassino do Realengo tivesse cursado uma educação integral teria feito o que fez? O que nos trará mais resultados, enrijecer nossas leis penais para reduzir a impunidade ou ensinar melhor nossos jovens para que não precisem ser punidos? No caso, não perdoar o assassino é cultivar coesões destrutivas para si e para os outros. Transformemos então nossas revoltas em ação produtiva. Vamos mudar nossa educação. Como disse o Papa João Paulo II “Não há paz sem justiça, não há justiça sem perdão”. Eu acrescentaria que não há perdão sem amor. Mas quem vai nos ensiná-lo?

Cristiano de Freitas Fernandes
Advogado, especialista em direito empresarial, sócio da Advocacia Fernandes Melo

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